"Eu, Capitão": esperança e questionamento?
- cometobrazilrb
- 18 de set. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 22 de set. de 2024
Saiba o que fala mais alto no longa e como a história e o contornou as críticas
Camylla Silva
"Eu, Capitão", filme dirigido pelo renomado cineasta italiano Matteo Garrone, vai a fundo na pauta da crise migratória contemporânea. Bem diferente de “Dogman” e “Gomorra”, desta vez Matteo traz uma narrativa que se estende entre a brutal realidade e toques de realismo fantástico.
O filme se destaca tanto pela sua estética visual quanto pela intensidade de suas performances. Contudo, é impossível assistir a "Eu, Capitão" sem enfrentar o “maremoto” de questões éticas e políticas que ele levanta.
A história e sua representação
O filme conta a odisséia de dois jovens senegaleses, Seydou e Moussa, interpretados brilhantemente por Seydou Sarr e Moustapha Fall. Ambos decidem deixar Dakar em busca de uma vida melhor na Europa, uma viagem que promete ser repleta de perigos e desafios. Através desta jornada, Garrone explora temas de coragem e resiliência frente às adversidades extremas.
No entanto, a decisão de focar quase exclusivamente no trajeto físico e emocional dos protagonistas, sem aprofundar nas consequências de sua chegada à Itália ou nas forças maiores por trás de sua odisséia, recebe críticas.
Visualmente, o filme é um feito notável. A cinematografia de Paolo Carnera captura a cruel beleza das paisagens e a intensa humanidade de seus personagens com uma clareza que é tanto perturbadora quanto poética. Cenas de um barco cheio de refugiados emergindo do escuro ou de Seydou sendo mantido em uma prisão clandestina são poderosas e evocativas, reforçando a capacidade do filme de tocar seu público em um nível emocional bem profundo.
Críticas
Apesar dos elogios pela execução técnica e artística, "Eu, Capitão" não escapa de críticas. Um dos maiores debates é a escolha de contar uma história tão intrinsecamente africana através das lentes de cineastas europeus. Alguns críticos apontam para o que veem como um elemento de "white savior" na narrativa, questionando se a verdadeira voz dos personagens senegaleses poderia ser melhor, representada por criadores que compartilham de seu background cultural e experiências.
A resposta para o título
"Eu, Capitão" é, sem dúvidas, uma obra cinematográfica poderosa e provocativa que merece ser vista e discutida. O longa oferece uma abertura para as experiências de imigrantes desesperados por um futuro melhor, ao mesmo tempo que levanta questões sobre quem tem o direito de contar essas histórias.
Em um mundo ideal, "Eu, Capitão" serviria como ponte, trazendo histórias marginais para o centro do palco de discussões públicas enquanto respeitam a autenticidade e a agência de seus protagonistas reais. Até lá, ele permanece como um exemplo de como a arte pode simultaneamente iluminar e obscurecer a verdade.
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